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domingo, 30 de junho de 2013

DESPREPARA​DA A GERAÇÃO MAIS PREPARADA

O texto é longo, mas é muito bom para pais e filhos!!!

1- A CRENÇA DE QUE A FELICIDADE É UM DIREITO TEM TORNADO DESPREPARADA A
GERAÇÃO MAIS PREPARADA
ELIANE BRUM

Ao conviver com os bem mais jovens, com aqueles que se tornaram adultos há
pouco e com aqueles que estão tateando para virar gente grande, percebo que
estamos diante da geração mais preparada – e, ao mesmo tempo, da mais
despreparada. Preparada do ponto ...de vista das habilidades, despreparada
porque não sabe lidar com frustrações. Preparada porque é capaz de usar as
ferramentas da tecnologia, despreparada porque despreza o esforço.
Preparada porque conhece o mundo em viagens protegidas, despreparada porque
desconhece a fragilidade da matéria da vida. E por tudo isso sofre, sofre
muito, porque foi ensinada a acreditar que nasceu com o patrimônio da
felicidade. E não foi ensinada a criar a partir da dor.

Há uma geração de classe média que estudou em bons colégios, é fluente em
outras línguas, viajou para o exterior e teve acesso à cultura e à
tecnologia. Uma geração que teve muito mais do que seus pais. Ao mesmo
tempo, cresceu com a ilusão de que a vida é fácil. Ou que já nascem prontos
– bastaria apenas que o mundo reconhecesse a sua genialidade.

Tenho me deparado com jovens que esperam ter no mercado de trabalho uma
continuação de suas casas – onde o chefe seria um pai ou uma mãe
complacente, que tudo concede. Foram ensinados a pensar que merecem, seja
lá o que for que queiram. E quando isso não acontece – porque obviamente
não acontece – sentem-se traídos, revoltam-se com a “injustiça” e boa parte
se emburra e desiste.

Como esses estreantes na vida adulta foram crianças e adolescentes que
ganharam tudo, sem ter de lutar por quase nada de relevante, desconhecem
que a vida é construção – e para conquistar um espaço no mundo é preciso
ralar muito. Com ética e honestidade – e não a cotoveladas ou aos gritos.
Como seus pais não conseguiram dizer, é o mundo que anuncia a eles uma nova
não lá muito animadora: viver é para os insistentes.

Por que boa parte dessa nova geração é assim? Penso que este é um
questionamento importante para quem está educando uma criança ou um
adolescente hoje. Nossa época tem sido marcada pela ilusão de que a
felicidade é uma espécie de direito. E tenho testemunhado a angústia de
muitos pais para garantir que os filhos sejam “felizes”. Pais que fazem
malabarismos para dar tudo aos filhos e protegê-los de todos os perrengues
– sem esperar nenhuma responsabilização nem reciprocidade.

É como se os filhos nascessem e imediatamente os pais já se tornassem
devedores. Para estes, frustrar os filhos é sinônimo de fracasso pessoal.
Mas é possível uma vida sem frustrações? Não é importante que os filhos
compreendam como parte do processo educativo duas premissas básicas do
viver, a frustração e o esforço? Ou a falta e a busca, duas faces de um
mesmo movimento? Existe alguém que viva sem se confrontar dia após dia com
os limites tanto de sua condição humana como de suas capacidades
individuais?

Nossa classe média parece desprezar o esforço. Prefere a genialidade. O
valor está no dom, naquilo que já nasce pronto. Dizer que “fulano é
esforçado” é quase uma ofensa. Ter de dar duro para conquistar algo parece
já vir assinalado com o carimbo de perdedor. Bacana é o cara que não
estudou, passou a noite na balada e foi aprovado no vestibular de Medicina.
Este atesta a excelência dos genes de seus pais. Esforçar-se é, no máximo,
coisa para os filhos da classe C, que ainda precisam assegurar seu lugar no
país.

Da mesma forma que supostamente seria possível construir um lugar sem
esforço, existe a crença não menos fantasiosa de que é possível viver sem
sofrer. De que as dores inerentes a toda vida são uma anomalia e, como
percebo em muitos jovens, uma espécie de traição ao futuro que deveria
estar garantido. Pais e filhos têm pagado caro pela crença de que a
felicidade é um direito. E a frustração um fracasso. Talvez aí esteja uma
pista para compreender a geração do “eu mereço”.

Basta andar por esse mundo para testemunhar o rosto de espanto e de mágoa
de jovens ao descobrir que a vida não é como os pais tinham lhes prometido.
Expressão que logo muda para o emburramento. E o pior é que sofrem
terrivelmente. Porque possuem muitas habilidades e ferramentas, mas não têm
o menor preparo para lidar com a dor e as decepções. Nem imaginam que viver
é também ter de aceitar limitações – e que ninguém, por mais brilhante que
seja, consegue tudo o que quer.

A questão, como poderia formular o filósofo Garrincha, é: “Estes pais e
estes filhos combinaram com a vida que seria fácil”? É no passar dos dias
que a conta não fecha e o projeto construído sobre fumaça desaparece
deixando nenhum chão. Ninguém descobre que viver é complicado quando cresce
ou deveria crescer – este momento é apenas quando a condição humana, frágil
e falha, começa a se explicitar no confronto com os muros da realidade.
Desde sempre sofremos. E mais vamos sofrer se não temos espaço nem mesmo
para falar da tristeza e da confusão.

Me parece que é isso que tem acontecido em muitas famílias por aí: se a
felicidade é um imperativo, o item principal do pacote completo que os pais
supostamente teriam de garantir aos filhos para serem considerados bem
sucedidos, como falar de dor, de medo e da sensação de se sentir
desencaixado? Não há espaço para nada que seja da vida, que pertença aos
espasmos de crescer duvidando de seu lugar no mundo, porque isso seria um
reconhecimento da falência do projeto familiar construído sobre a ilusão da
felicidade e da completude.

Quando o que não pode ser dito vira sintoma – já que ninguém está disposto
a escutar, porque escutar significaria rever escolhas e reconhecer
equívocos – o mais fácil é calar. E não por acaso se cala com medicamentos
e cada vez mais cedo o desconforto de crianças que não se comportam segundo
o manual. Assim, a família pode tocar o cotidiano sem que ninguém precise
olhar de verdade para ninguém dentro de casa.

Se os filhos têm o direito de ser felizes simplesmente porque existem – e
aos pais caberia garantir esse direito – que tipo de relação pais e filhos
podem ter? Como seria possível estabelecer um vínculo genuíno se o
sofrimento, o medo e as dúvidas estão previamente fora dele? Se a relação
está construída sobre uma ilusão, só é possível fingir.

Aos filhos cabe fingir felicidade – e, como não conseguem, passam a exigir
cada vez mais de tudo, especialmente coisas materiais, já que estas são as
mais fáceis de alcançar – e aos pais cabe fingir ter a possibilidade de
garantir a felicidade, o que sabem intimamente que é uma mentira porque a
sentem na própria pele dia após dia. É pelos objetos de consumo que a
novela familiar tem se desenrolado, onde os pais fazem de conta que dão o
que ninguém pode dar, e os filhos simulam receber o que só eles podem
buscar. E por isso logo é preciso criar uma nova demanda para manter o jogo
funcionando.

O resultado disso é pais e filhos angustiados, que vão conviver uma vida
inteira, mas se desconhecem. E, portanto, estão perdendo uma grande chance.
Todos sofrem muito nesse teatro de desencontros anunciados. E mais sofrem
porque precisam fingir que existe uma vida em que se pode tudo. E acreditar
que se pode tudo é o atalho mais rápido para alcançar não a frustração que
move, mas aquela que paralisa.

Quando converso com esses jovens no parapeito da vida adulta, com suas
imensas possibilidades e riscos tão grandiosos quanto, percebo que precisam
muito de realidade. Com tudo o que a realidade é. Sim, assumir a narrativa
da própria vida é para quem tem coragem. Não é complicado porque você vai
ter competidores com habilidades iguais ou superiores a sua, mas porque se
tornar aquilo que se é, buscar a própria voz, é escolher um percurso
pontilhado de desvios e sem nenhuma certeza de chegada. É viver com dúvidas
e ter de responder pelas próprias escolhas. Mas é nesse movimento que a
gente vira gente grande.

Seria muito bacana que os pais de hoje entendessem que tão importante
quanto uma boa escola ou um curso de línguas ou um Ipad é dizer de vez em
quando: “Te vira, meu filho. Você sempre poderá contar comigo, mas essa
briga é tua”. Assim como sentar para jantar e falar da vida como ela é:
“Olha, meu dia foi difícil” ou “Estou com dúvidas, estou com medo, estou
confuso” ou “Não sei o que fazer, mas estou tentando descobrir”. Porque
fingir que está tudo bem e que tudo pode significa dizer ao seu filho que
você não confia nele nem o respeita, já que o trata como um imbecil,
incapaz de compreender a matéria da existência. É tão ruim quanto ligar a
TV em volume alto o suficiente para que nada que ameace o frágil equilíbrio
doméstico possa ser dito.

Agora, se os pais mentiram que a felicidade é um direito e seu filho merece
tudo simplesmente por existir, paciência. De nada vai adiantar choramingar
ou emburrar ao descobrir que vai ter de conquistar seu espaço no mundo sem
nenhuma garantia. O melhor a fazer é ter a coragem de escolher. Seja a
escolha de lutar pelo seu desejo – ou para descobri-lo –, seja a de abrir
mão dele. E não culpar ninguém porque eventualmente não deu certo, porque
com certeza vai dar errado muitas vezes. Ou transferir para o outro a
responsabilidade pela sua desistência.

Crescer é compreender que o fato de a vida ser falta não a torna menor.
Sim, a vida é insuficiente. Mas é o que temos. E é melhor não perder tempo
se sentindo injustiçado porque um dia ela acaba.

" SEM REMORSSO!!! SE FICAR COM "PENINHA " HOJE, VAI VER NO QUE SE
TRANSFORMA AMANHÃ!!!

quarta-feira, 26 de junho de 2013

O RISCO DA BANALIZAÇÃO DOS PROTESTOS

Acredito que corremos um sério risco da banalização dos protestos. Com a onda de manifestações se espalhando há algumas semanas em todo o Brasil, cada vez mais e mais bandeiras aparecem reivindicando algo que se acredita ser de direito. Porém aí está o perigo! Se nos deixarmos levar pela onda, sem pensar e refletir antes, poderemos alcançar os objetivos esperados, mas os resultados podem ser diferentes do que imaginávamos.
Alguém se lembra das chamadas ações populistas do Estado? São aquelas em que o Estado atende os chamados clamores do povo apenas para ganhar a simpatia dele e consequentemente seus votos mas cujos resultados futuros podem ser catastróficos. Portanto se o governo aceitar todas as reivindicações das ruas sem uma análise e um debate, há um grande risco de regredirmos politico, sócio e economicamente!
Outra questão é que não somos detentores da verdade. Nem sempre aquilo que acreditamos ser o melhor para nós realmente é! Precisamos ter muito cuidado e principalmente pesquisar muito antes de seguir uma bandeira, uma onda viral ou sermos levados pelo efeito manada da empolgação. Todas as bandeiras são muito atraentes e fazem sentido porque são lógicas e, por este motivo, parecem ser corretas. No entanto um aprofundamento das questões é extremamente necessário para depois de atingido os objetivos não se arrepender.
Questão também muito importante que não podemos esquecer é que somos seres humanos e como tal possuímos instintos animais. Um deles é o instinto de sobrevivência! Instintivamente agimos para nos proteger e ao nosso grupo. Sem percebemos tendenciamos reinvindicações para nos favorecer. Não que isto seja errado, longe de mim ir contra natureza humana, mas nem sempre reinvindicações de um grupo de pessoas é o melhor para a sociedade inteira. Neste caso uma autocrítica e o entendimento do bem estar coletivo como benefício próprio se fazem importantes.

Que fique bem claro que não sou contra as manifestações! Acho que temos que aproveitar o momento para refletir, debater e assim dar sustentação as manifestações. Demos um passo importante na Democracia ao ir para as ruas manifestar, demonstrando que podemos e devemos participar mais ativamente da vida política. Agora só nos falta exercermos esta cidadania de forma consciente, pesquisando, debatendo, dialogando e principalmente pensando!

domingo, 23 de junho de 2013

REFLEXÕES SOBRE AS MANIFESTAÇÕES

Depois de quase três anos estou voltando! Para recomeçar, não poderia ser diferente, vou falar deste momento que pode ser fantástico e histórico se não acabar no ostracismo do esquecimento, ou apenas na festa "da pátria de chuteiras"...  Afinal de contas durante muito tempo a copa do mundo serviu para desfocar os problemas da sociedade e da politica brasileira.
Para aqueles que não sabem, atualmente moro em São Paulo (Capital) e os protestos tem atrapalhado bastante a rotina aqui na cidade. Isto me levou, no inicio, a ser contra a bandeira que levantavam (passe livre). Achava que estava gerando custos diretos e indiretos demasiados por um objetivo que no fim das contas sai do nosso bolso de qualquer jeito e ainda do pior jeito, pois seria da forma menos transparente possível. Mas agora com outras bandeiras se levantando e a insatisfação da população mostrando a cara, já sou mais a favor, pois no mínimo, que esperamos, é que sirva como um exercício de participação social na política e de cidadania para o povo voltar a lutar nas horas certas. Neste sentido ficam marcadas duas manifestações, sendo que uma delas já virou uma onda viral nas redes sociais: “Não é apenas pelos 20 centavos” e “Desculpem pelo transtorno, mas estamos mudando o Brasil”.  De qualquer forma já está sendo bem proveitoso, e falo por mim que estou revendo conceitos e mudando de opinião, pois vejo que está gerando muitos debates e reflexões nas ruas e redes sociais e como consequência uma evolução como povo e indivíduos.
Este texto de meu amigo Rafael de Tarso me ajudou muito neste processo.

“Muitos amigos me perguntam o que acho dos protestos, se é um movimento que veio pra ficar. Se é uma mudança real. Boa pergunta. Uns estão vendo poesia, fé na humanidade e o bla blá coletivo. Outros querem a adrenalina da ação e a fantasia da guerra. Acredito que é um momento diferente. Pessoas que raramente se posicionam estão colcando opiniões e indo para as ruas. Posso estar fazendo uma análise pequena: mas sem os confrontos com a polícia - principal motivo para muitos incorparem o movimento - a tendência é esvaziar. Isso tudo não importa muito. O que importa é o efeito e o pós. Por menor que seja o tempo que você dedicou a questionar as decisões políticas ou apenas analisar os discursos e atos, você ganhou em maturidade política( espera-se). Neste cenário podem surgir lideranças e movimentos verdadeiros, mas também aproveitadores. Então use a cabeça. Neste sentido, o movimento só transforma se as atitudes forem diferentes. E ai é contigo e não com eles. Aquela ideia das pilulas do filme Matrix. Você vai de azul ou de vermelha? Continuar votando igual, não participando igual, dando jeitinho, sendo corruptor e conivente? Não acho que protesto deva ser uma festa, muito menos linda. Não acho que cantar músicas da época da ditadura e velhas frases de efeito fazem revolução. Só atitude e escolhas. Você pode ir lá, dar o seu recado e ir pra casa dormir ou passar a ter uma postura diferente, menos "to nem ai" e mais "isso aqui também é meu, e eu vou ser parte da construção do lugar em que eu quero viver". Sem máscaras ou bandeiras.”

No entanto, temos outro ponto a destacar das manifestações que são as agressões e vandalismos de grupos da sociedade. Temos aqueles que, por culpa do sofrimento e abandono da sociedade, vivem na marginalidade e a violência já faz parte do mundo deles, temos aqueles que se juntam apenas para guerrear, temos anarquistas, aproveitadores, oportunistas e até filhos de papai revoltados. Já vi e ouvi várias pessoas próximas a mim defenderem estas pessoas pois a revolta delas é justificável e pode ser compreendida pelas mazelas que sofreram ou pela cultura a qual estão inseridas. Mas, pera aí! Tudo bem entendermos, mas apoia-los? Sei que pode soar forte, mas então porque não apoiamos os terroristas? Os ataques deles também tem sentido: eles são oprimidos e por alguns grupos da cultura e religião deles é certo agir desta maneira. A única diferença é que para nós fica mais difícil compreendê-los pela distância cultural e geográfica.  Acho que não! Qualquer forma de violência deve ser coibida e não apoiada! Temos que dar oportunidades, educação e inclusão, mas disciplinar e punir o caos, a violência, o vandalismo e os saques que deslegitimam e perdem a razão das manifestações, além de causar danos a pessoas de direito, homens de bem e trabalhadores que também lutam e carregam suas próprias cruzes.
Infelizmente baderneiros e aproveitadores sempre existirão nestes casos! Mas temos que apreender com as situações que aparecem e irmos aperfeiçoando. Atualmente vemos que, como manifestantes, temos de descobrir formas que inibam ou coíbam agressores e vândalos. Já os policias precisam aprender a lidar com esta nova ação social de forma inteligente, primeiro punindo apenas quem deve ser punido e segundo agindo juntamente com os manifestantes que querem a paz. Para ambos, usar de orientação, comunicação, colaboração e inteligência entre si seria um caminho!
Nunca podemos esquecer que somos todos seres humanos, e como tal temos os mesmos defeitos...